Então, ela pega nas suas mãos, com cuidado. Segura-as com força mas, ao mesmo tempo, delicadamente pois tem medo de como ele pode reagir. Ela sente ele a segurá-las da mesma maneira e fica feliz por isso. No entanto, ele continua a não olhar para ela.
Então, a rapariga diz, com um sorriso amável:
- Olha para mim. Sorri.
Ela arrepende-se imediatamente, pois agora ele nunca iria olhar directamente para ela. Ele nunca sorri (pelo menos não livremente) devido à vergonha que tinha pelos seus dentes tortos que, mesmo assim, ela adorava. Ela queria desesperadamente ver o sorriso dele; queria que ele sorrisse para ela. Queria ver a alegria estampada na sua cara. Mas agora era tarde demais.
Ele já se estava a afastar e quase a largar as mãos dela, se ela não as tivesse agarrado com mais força (mas, ao mesmo tempo, delicadamente).
Ela disse, desesperadamente:
- Por favor, olha para mim!
Depois de muita "discussão", ele olhou. Ela olhava-o, vendo a sua alma envergonhada a esconder-se.
Então, disse com muito carinho:
- Estás a ver-me? Estás a ver o meu cabelo despenteado, as minhas olheiras permanentes, as borbulhas e pontos negros, a marca esquisita que tenho no meu nariz esquisito, os olhos castanhos simples sem piada nenhuma e os lábios gretados? Pronto, já viste o que tenho de mal na minha cara. Mas estou aqui, não estou? Não deixes que a vergonha te proiba de fazeres aquilo que queres. Um dia vais deixar de ter vergonha comigo, e aí vais sorrir-me.

Ele ouviu aquilo tudo com muita calma. Ficou um pouco mais tenso quando ela de repente (no entanto, em câmara lenta) aproximou a sua testa da dele e juntou-as. Os seus narizes tocavam-se levemente e ele sentiu, mais do que viu, ela a fechar os olhos. Ao sentir ela tão perto dele, tão perto como nunca tinha estado, fechou os olhos também e sorriu.
E então ela acorda.